Disciplina: Serviço

Aquele que quer ser o maior, que sirva os outros.

Continuamos com a Série Disciplinas Espirituais e, neste episódio, vamos refletir sobre a disciplina do Serviço. Uma disciplina muito necessária para equilibrar nossas relações feridas pelo pecado. Juntamente com a submissão, o serviço nos ajuda a mortificar o coração orgulhoso, que busca honra e vaidade; que se acha superior e melhor em tantos sentidos; que discrimina e distancia os que são diferentes.

Deus, sabendo disso, associa a grandeza com o serviço: Aquele que quer ser o maior, que sirva os outros. (Mateus 20:26) Somos confrontados em nossas relações a abrir mão do controle constantemente; a entregar a nossa vontade porque enxergamos outras vontades além da nossa; a perceber os outros e a carregar os fardos uns dos outros. O serviço é uma evidência dessa grandeza escondida, gerada no profundo de nosso coração, em humildade, abnegação e submissão.

E também é uma disciplina espiritual, através da qual aprendemos na prática a seguir os passos de Jesus que serviu de tantas maneiras. Além disso, nós participamos da obra de Cristo que continua servindo, agora, através de cada um de nós. Que esse exercício nos faça aprender a viver como servos de todos.

A Disciplina Espiritual do Serviço

Assim como a cruz é o símbolo da submissão, a toalha é o símbolo do serviço. Na última ceia com os discípulos, Jesus sendo o Senhor e Mestre lavou os pés de todos eles, com uma bacia e uma toalha nas mãos, nos deixando uma lição prática sobre grandeza e serviço.

Tendo vivido como servo, Jesus nos convoca também para servir. Uma vez que nos tornamos seus seguidores, aprendemos com ele a servir como ele serviu. Nas palavras do próprio Jesus: “E uma vez que eu, seu Senhor e Mestre, lavei seus pés, vocês devem lavar os pés uns dos outros. Eu lhes dei um exemplo a ser seguido. Façam como eu fiz a vocês.” (João 13:14–15)

No serviço experimentamos pequenas mortes que ocorrem quando vamos além de nós mesmos. O serviço nos liberta da obrigação de participar dos jogos deste mundo de promoção e autoridade, de manipulação e glorificação pessoal. Elimina a necessidade (e o desejo) que temos de nos colocarmos como superiores aos outros, existindo ou não uma ordem hierárquica por trás. “Aquele que quer ser o maior, que sirva os outros”, Jesus disse em Mateus 20:26.

Jesus não ensinou que todos têm a mesma autoridade. Há liderança e subordinação em nossas relações. Mas Jesus nos ensinou a servir, sejam quais forem essas relações. Submissão e serviço estão relacionados e aprendemos a nos submeter uns aos outros também através do serviço mútuo. Especialmente se temos autoridade.

Para Richard Foster, muito serviço é feito pelo esforço humano de aparecer, manipular, demonstrar força e prevalecer sobre o outro. Mas o serviço verdadeiro origina-se no relacionamento com Deus, no profundo de nosso íntimo, e se torna uma resposta a Deus em amor aos outros, sem buscar aplausos ou holofotes, sem exigir uma resposta em troca. Não escolhemos a quem servir, não fazemos discriminação, pois nos tornamos “servo de todos.”(Marcos 9:35) (2)

A inclinação para servir quase sempre é um obstáculo ao serviço verdadeiro, não é algo que desejamos fazer espontaneamente. Por isso, o serviço exercitado como uma disciplina, reorienta nossas inclinações e nos ensina a cuidar dos outros em primeiro lugar. Preste atenção às pessoas à sua volta, que serviços você pode realizar por elas, por amor a elas? Busque servir quem você ama, seja lavando louça em sua casa ou ajudando um colega de trabalho. Depois faça o exercício de servir alguém que você não ama ou não tem apreço especial, talvez um estranho, talvez alguém de quem você não goste. Sirva de alguma maneira discreta e sem chamar a atenção.

A humildade penetra nossa vida por meio da disciplina do serviço. Ocorre uma mudança em nosso espírito quando nos propomos a seguir um curso de ação escolhido conscientemente que valorize o outro e faça algo por ele longe dos olhos dos demais, das obrigações e dos jogos de interesse.

O serviço disciplina os desejos desordenados da carne e os transforma. A carne procura por atenção, se contorce em busca de honra e manipula meios para conseguir reconhecimento público pelo serviço prestado. Quando nos recusamos a ceder aos desejos da carne, a crucificamos e, junto com ela, nosso orgulho e arrogância. Preste atenção ao seu coração e veja como você se sente quando exercitar essa disciplina. Persista no exercício do serviço, até sua carne ser vencida. (2)

Conselho de William Law para quem deseja ser humilde: aprenda a servir seu semelhante, isto é…

“…ser condescendente com todas as fraquezas e enfermidades de seus companheiros, cobrir suas fragilidades, encorajar suas virtudes, aliviar as carências, ter jubilo na prosperidade deles, compadecer-se de suas aflições, acolher a amizade deles, relevar suas indelicadezas, perdoar-lhes a malícia, servir aos servos e dignar-se aos ofícios mais humildes da humanidade.” — William Law (2)

Segundo Foster, como consequência da disciplina do serviço, veremos o surgimento da graça da humildade, teremos consciência de um ânimo revigorado e de uma alegria de viver, uma nova sensação de confiança marcará nossas atividades. Embora as demandas da vida continuem tão grandes como sempre foram, viveremos com a sensação renovada de uma paz que não se afoba, teremos compaixão de quem antes tínhamos inveja e enxergaremos as pessoas que antes ignorávamos. Perceberemos um novo centro de controle nos direcionando em nossas ações. (2)

Acima de tudo, como consequência da disciplina do serviço ficaremos mais conscientes de que Jesus, como Senhor humilde e generoso, continua servindo seus amigos, porém agora, através das nossas mãos. Como diz Teresa de Ávila:

“Cristo não tem corpo agora além do seu. Sem mãos, sem pés na terra, a não ser os seus. Seus são os olhos através dos quais ele olha com compaixão. Seus são os pés com os quais ele caminha para fazer o bem. Suas são as mãos pelas quais ele abençoa todo o mundo. Suas são as mãos, seus são os pés, seus são os olhos, você é o corpo dele. Cristo não tem corpo agora na terra, a não ser o seu.” — Teresa de Ávila

Nós somos o corpo de Cristo e através de nossas escolhas e atitudes continuamos o serviço de nosso Senhor e testemunhamos de sua existência, enquanto aguardamos a sua volta.

Jesus em Marcos 9:34-35 pergunta aos discípulos: “Sobre o que vocês discutiam no caminho?”. Eles não responderam, pois tinham discutido sobre qual deles era o maior. Jesus se sentou, chamou os doze e disse: “Quem quiser ser o primeiro, que se torne o último e seja servo de todos”.

Oremos

Senhor Jesus, dá-nos uma consciência viva de que te seguimos e continuamos as suas obras no mundo. Nos ajuda a participar do seu cuidado e redenção através das atitudes de serviço. Nos ajude em nosso orgulho e medo. Disciplina nosso coração e gera em nós a verdadeira humildade, para sermos cada dia um pouco mais parecidos contigo. Amém.

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