Disciplina: Submissão

Neste episódio da Série Disciplinas Espirituais vamos refletir sobre a disciplina da Submissão. Em meio a relações tão distorcidas pelo pecado, onde prevalece julgamento, manipulação e controle, somos chamados a confiar uns nos outros e a buscar o bem dos outros. Essa disciplina vai no cerne de nosso sistema de valores e no modo como nos vemos e nos julgamos em relação aos outros ou como julgamos os outros em relação a nós. O medo de confiar, as máscaras de proteção, as relações de poder… tudo isso interfere na atitude que adotamos em nossos relacionamentos.

Por que nos armamos tanto? Como deixamos prevalecer o medo das opiniões diferentes? De onde vem a dificuldade de ceder a outro? O que aconteceria em nossos relacionamentos se nos sentíssemos seguros o suficiente para confiar, abrir mão, ceder, ou seja, nos submetermos uns aos outros em amor?

Deus nos chama para vivermos de um modo diferente, tendo a Trindade como modelo de vida em nossos relacionamentos. Por isso, pare um pouco e reflita sobre a disciplina da submissão em sua vida. Busque formas de incluí-la em sua rotina, especialmente se você se tem dificuldades para ceder e abrir mão do controle. Que esse exercício faça você aprender a se ver como igual e a responder ao chamado de Deus de se submeter aos outros por amor a Ele. Reflita sobre o que precisaria mudar para a submissão mútua se tornar uma realidade em seus relacionamentos.

O cristão é um senhor perfeitamente livre de tudo: a ninguém se sujeita. O cristão é um servo perfeitamente zeloso em tudo: sujeita-se a todos. — Martinho Lutero

Deus nos criou de modo que estamos sempre nos relacionando, seja na família, com os colegas de trabalho ou na igreja. Seja com pessoas que conhecemos ou com os estranhos que encontramos nas interações sociais. Deus nos fez relacionais e nos incluiu em um povo, nos chamando para vivermos em relacionamento constante uns com os outros, para cuidarmos uns dos outros, para amarmos uns aos outros.

Além disso, há as diversas relações estruturais de hierarquia e liderança e, assim, espera-se que algumas pessoas se submetam a outras devido à autoridade e poder. E é dentro desse contexto das relações que é praticada a disciplina da submissão. Ela é uma disciplina comunitária, que depende de outras pessoas para ser realizada. Muitas disciplinas podemos fazer sozinhos, como a oração e o jejum. Mas no caso da submissão, a exercitamos em nossas relações.

Segundo Richard Foster, de todas as disciplinas espirituais, a submissão é a que mais sofreu abusos ao longo da história da igreja, por isso precisamos examiná-la com cuidado. A submissão envolve o modo como nos vemos e vemos os demais, os julgamentos que fazemos e as escolhas diárias de buscar o bem em nossos relacionamentos. (2)

Para cada disciplina, existe uma liberdade correspondente. Assim, a liberdade correspondente à disciplina da submissão é a do fardo terrível de sempre precisarmos fazer as coisas do nosso jeito. Exigir que tudo funcione conforme nossa vontade ou controle é uma escravidão severa que oprime a nós e aos outros em nossa volta. Assim, há alguns mais opressores que outros e sentimos isso diariamente em nossas relações. (2)

Há pessoas que vivem em constante aflição porque algo não aconteceu como desejado. Ou fazem do ambiente uma guerra para ter as coisas feitas do seu jeito. Muitas brigas e conflitos na igreja, na família e no ambiente de trabalho, acontecem porque as pessoas não cedem umas às outras.

A submissão, assim, expõe nossa teimosia e orgulho, a vaidade e o medo de confiar. A disciplina da submissão nos ensina a abrir mão do controle, a deixar as coisas acontecerem de acordo com a vontade de outros, a nos desprender da questão e a mortificar a vontade própria. Por isso, é uma disciplina importante para desenvolver as virtudes da humildade e paciência, influenciando diretamente em todos os nossos relacionamentos.

O ensino bíblico sobre a submissão concentra-se no espírito com que vemos o outro e comunica a nós uma atitude de subordinação mútua, baseada no apreço e no respeito uns pelos outros, não apenas na estrutura formal de hierarquia onde estamos inseridos.

Na submissão, ficamos livres para valorizar os outros, para abrir mão dos direitos, das opiniões e da vontade pelo bem dos outros. Aprendemos que nossa felicidade não depende de conseguirmos o que queremos ou fazermos as coisas do nosso jeito. Por isso, podemos ceder ao outro, não impor nossa vontade e aceitar uma decisão, mesmo que tenhamos uma opinião divergente.

É claro que podemos conversar e encontrar uma solução em conjunto, mas na maioria das relações, geralmente acontece uma briga de egos, onde vence o mais forte, deixando os demais irritados, frustrados e desanimados.

Como seriam nossos relacionamentos se aprendêssemos a nos submeter uns aos outros em amor?

A vida de Jesus foi uma vida de submissão e ele nos chama para segui-lo, aprendendo com ele a entregar a nossa vida para encontrá-la, a considerar os outros como superiores a nós e a nos submetermos uns aos outros em amor. Tudo isso está incluído na atitude de negar a si mesmo. “Então Jesus disse a seus discípulos: “Se alguém quer ser meu seguidor, negue a si mesmo, tome sua cruz e siga-me.” (Mateus 16:24)

Mesmo nas situações onde há autoridade e a submissão é devida, o Senhor Jesus nos ensina que aquele que lidera deve ser o primeiro a servir. E assim nos confronta com a submissão mútua, onde não abusamos das relações de poder e visamos sempre o bem do outro.

Podemos compreender os atos de submissão de várias formas, aplicados em vários contextos.

  • Primeiro está a necessidade da submissão a Deus. Como todas as disciplinas espirituais, a submissão também é realizada em relacionamento com Deus. Nos rendemos integralmente nas mãos de Deus, para que aconteça conosco conforme sua vontade. Muitos que não conseguem se submeter aos outros, também não conseguem se submeter a Deus, não entregam o controle jamais e lutam para sempre prevalecer a sua vontade.
  • A segunda forma é a submissão às Escrituras. À medida que ouvimos e obedecemos à Palavra de Deus, nos submetemos ao seu ensino, aceitamos sua luz iluminando nossa vida e nosso caminho.
  • Também aprendemos nos submeter à nossa família, cuidando não apenas dos nossos próprios interesses, mas também dos interesses dos demais, especialmente daqueles que estão bem perto de nós. Comece ouvindo e depois servindo as pessoas de sua família.
  • Também nos submetemos ao próximo e àquele com quem encontramos durante as atividades cotidianas. Se esforce para enxergar as pessoas e ouvi-las.
  • Além disso, a submissão pode ser exercitada na comunidade cristã, ajudando o corpo de Cristo nas mais variadas funções, não por vaidade, mas aprendendo a trabalhar em equipe, sujeitando-nos uns aos outros, buscando a paz e visando o bem da igreja.

O mais alto nível de comunhão — que envolve humildade, honestidade, transparência e às vezes confissão e restituição — é sustentado pela disciplina da submissão.

A cruz é o símbolo da submissão e o negar a si mesmo a forma prática de vivermos em relacionamento uns com os outros.

Experimente esse exercício: em uma situação de divergências, ceda. Em uma discussão, fique em silêncio. Quando há uma orientação sobre o que fazer, obedeça. Se errou, peça desculpas. Busque ver as pessoas com quem você encontrar no dia de hoje como superiores a você e dignas de respeito, busque formas de servir essas pessoas. Busque o bem em suas relações.

A submissão também se torna um modo de vida e um jeito de nos relacionarmos uns com os outros, em todos os contextos. E pode ser praticada como um exercício, especialmente quando nossa atitude para o outro é de superioridade, desprezo ou indiferença. Lembrando que o fazemos por temor ao nosso Senhor: “sujeitem-se uns aos outros por temor a Cristo.” (Efésios 5:21)

Em nossa rotina, acabamos nos distanciando e negligenciando a presença de outras pessoas. Somos diferentes em muitos sentidos e Deus nos chama para vivermos em harmonia, a partir de uma entrega em submissão a Deus e aos outros. Por estarmos seguros no amor de Deus, nós podemos fazer isso. Deus nos chama para vivermos de um modo diferente, tendo a Trindade como modelo de vida em nossos relacionamentos. Para construirmos pontes ao invés de muros, para testemunharmos dele no modo como agimos com os outros, nos agarrarmos firmemente ao que é bom, amarmos com amor fraternal sem fingimento e termos prazer em honrar uns aos outros. (Romanos 12:9–10) Ele vai nos sustentar nesse propósito.

Paulo em Filipenses 2:3–8 nos diz: Não sejam egoístas, nem tentem impressionar ninguém. Sejam humildes e considerem os outros mais importantes que vocês. Não procurem apenas os próprios interesses, mas preocupem-se também com os interesses alheios. Tenham a mesma atitude demonstrada por Cristo Jesus. Embora sendo Deus, não considerou que ser igual a Deus fosse algo a que devesse se apegar. Em vez disso, esvaziou a si mesmo; assumiu a posição de servo e nasceu como ser humano. Quando veio em forma humana, humilhou-se e foi obediente até a morte, e morte de cruz.

Oremos

Senhor Deus, ensina-nos através da submissão a vivermos no seu Reino como irmãos; a promovermos a paz e, através da disciplina da submissão, a calarmos nossa necessidade de exercer poder sobre o outro, de ferirmos e oprimirmos os outros em nossas relações. Que nosso amor possa testemunhar que somos seus filhos e seguidores de Jesus. Amém.

por Vanessa Belmonte

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