Disciplina: Confissão

Em nossa Série Disciplinas Espirituais, a disciplina da Confissão foi uma das que mais me confrontou, porque há poucas oportunidades em nossa comunhão para a exposição de quem somos. Em nosso medo e orgulho, continuamos sozinhos com nosso pecado e nos privamos do que o Senhor quer realizar em nós e em nossa comunidade através dessa situação de fragilidade e vulnerabilidade mútua. Assim, meus amigos, convido vocês para exercitarem a disciplina da confissão e se exporem à luz da graça e do perdão de Deus, derramadas sobre nós através da cruz de Cristo e feitas uma realidade através da comunhão do Espírito Santo.

A Disciplina Espiritual da Confissão

Confessar as más obras é o primeiro passo para as boas obras. — Agostinho

A obra perfeita de Jesus Cristo nos possibilita hoje a confissão e o perdão, duas realidades que nos transformam. Sem a cruz, a disciplina da confissão seria terapêutica apenas no âmbito psicológico. Porém, ela é muito mais do que isso, envolve uma mudança real em nosso relacionamento com Deus, uma mudança real em nós, e se torna um veículo de cura e de transformação.

Confessamos nossos pecados a Deus, por intermédio de Jesus Cristo, e uns aos outros, como orientado em Tiago 5. A confissão é uma disciplina difícil para nós, pois em uma cultura de aparência, sentimos que precisamos resolver os nossos problemas sozinhos e mostrar apenas nosso sucesso. Isso acontece em todas as áreas: a dificuldade de lidar com o casamento, o problema no trabalho ou um pecado específico. Tememos que a exposição leve ao julgamento e afastamento das pessoas. Às vezes, tememos também olhar de frente para nós mesmos e reconhecer nossos pecados, assumir que precisamos de ajuda. Então, nos fechamos em nosso isolamento e lidamos com nossas dificuldades sem recorrer a algo que o Senhor disponibilizou para nos ajudar: a confissão a um irmão.

Segundo Bonhoeffer, “quem fica sozinho com seu mal fica totalmente só. Pode ser que cristãos fiquem sozinhos apesar da devoção e oração, apesar de toda comunhão no servir. É possível que jamais se rompa aquela última barreira que os separa da comunhão, porque eles vivem juntos como pessoas crentes e piedosas, e não como pessoas descrentes e pecadoras. A comunhão piedosa não permite que alguém seja pecador. Por isso, cada pessoa precisa esconder o pecado de si mesma e da comunidade. Portanto, ficamos sozinhos com nosso pecado, na mentira, na hipocrisia, pois não há como negar: somos pecadores.” (2)

Porém, quanto mais solitária é a pessoa, mais destruidor é o poder do pecado em sua vida. E quanto mais profundo o envolvimento com o pecado, mais desesperadora a solidão. O pecado teme a luz e, por isso, foge da comunhão. Contudo, é justamente esse ato de exposição e humilhação, possível apenas por causa da verdadeira comunhão, que derruba as últimas tentativas de autojustificação, expõe a raiz da soberba e promove a ruptura com o passado. (2)

Como consequência, a confissão permite que ocorra o abandono do mal, o rompimento com o pecado, a reafirmação da entrega a Deus, a lembrança da promessa de uma nova vida e o compromisso com a vida de discipulado. A confissão é, assim, um exercício importante da vida de discipulado onde deixamos as coisas antigas para trás e nos esforçamos para viver as coisas novas que já são uma realidade em nós (2 Coríntios 5:17). (2)

Não somente é verdade que ‘nós amamos porque Deus nos amou primeiro’, como também é verdade que fomos capacitados a confessar nossos pecados porque Deus nos amou primeiro (1 João 4:19). Richard Foster considera que as evidências da misericórdia e da graça divinas despertam o coração contrito e nos levam a buscar a Deus que espera por nós como o pai do filho perdido, ansiando nosso retorno. Deus tem prazer e se alegra em nos perdoar. (3)

Temos de aceitar o fato de que um pecado não confessado é um tipo especial de jugo ou obstrução na realidade psicológica e física do cristão. A disciplina da confissão e o perdão removem este jugo. A confissão também pode ser mútua, onde os dois confessam seus pecados um ao outro e oram um pelo outro.

Segundo James Smith, nós queremos confessar. Há um desejo em nosso coração de confessar nossas faltas que parece ser contraintuitivo. Quem deseja ser confrontado com seus pecados? Porém, no fundo, todos já sabemos a verdade sobre nossos erros e ruína. Assim, os rituais que nos convidam a confessar nossos pecados são na verdade favores que nos permitem ser transformados por Deus. Por isso, crie esse ritual de confissão mútua com um amigo. (4)

A prática e a disciplina da confissão são importantes aspectos da história que deve governar nossa presença no mundo. Lembramos de nossa identidade, de nosso relacionamento com Deus, da transformação à imagem de Jesus que está ocorrendo dia a dia em nós e nos engajamos nesse processo. Anunciamos as boas novas de perdão e salvação e as aceitamos, não apenas no dia de nossa conversão, mas todos os dias, todas as vezes que confessamos nossos pecados uns aos outros e aceitamos o perdão gracioso de Deus. (4)

A miséria do pecador e a misericórdia de Deus — eis a verdade do Evangelho em Jesus Cristo. Dietrich Bonhoeffer

No ato de confissão mútua, o Espírito Santo atua em nós. Nossa humanidade não é mais negada, mas transformada. Segundo Dallas Willard, a confissão é uma disciplina que funciona dentro da comunhão. Nela, permitimos que pessoas confiáveis conheçam nossas fraquezas mais profundas e nossas falhas. Isso nutre nossa fé na provisão de Deus para nossas necessidades por meio do seu povo, nutre nosso senso de ser amado e nossa humildade diante de nossos irmãos. Assim, permitimos que alguns amigos em Cristo saibam quem somos na verdade e, com isso, deixamos de carregar o peso de esconder e fingir, que normalmente absorve uma quantidade espantosa de energia e engajamo-nos mutuamente. (5)

Como fazer uma confissão: fazem-se necessárias três coisas, examinar a consciência, se arrepender, e se esforçar para evitar o pecado e não cometê-lo novamente. Procuramos uma pessoa que nos conheça e nos ame, com essa convicção de arrependimento em nosso coração, então, confessamos nossos pecados em uma conversa e, em seguida, nosso amigo ora pelo perdão e pela cura.

Como ouvir uma confissão: somente uma pessoa humilhada, que também confessa seus pecados, tem condições de ouvir a confissão do irmão, por isso, o primeiro passo é aprender a viver em sujeição à cruz. Bonhoeffer escreve: “Qualquer um que viva em sujeição à cruz, que discerniu na cruz de Jesus a absoluta impiedade de todos os homens e do seu próprio coração, descobrirá que não há pecado que ele já não conheça. Qualquer um que já tenha se horrorizado e se espantado com o próprio pecado que pregou Jesus na cruz não mais ficará horrorizado, nem mesmo com os pecados mais escabrosos de um irmão.” (3)

Após ouvir a confissão, é importante orar a favor da pessoa, ao invés de lhe dar conselhos. Devemos anunciar que o perdão existente em Jesus Cristo é real e eficaz para ela. A oração tem o poder de curar as feridas internas causadas pelo pecado. Oramos pela cura e restauração. Por fim, a adoração é a nossa reação ao perdão e amor recebidos do Pai.

Através da confissão, o mal é tirado de nós e carregado pela comunhão de pecadores que vivem da graça de Deus revelada na cruz de Jesus Cristo. — Dietrich Bonhoeffer

Tiago 5:16 nos diz: “Portanto, confessem seus pecados uns aos outros e orem uns pelos outros para serem curados.”

Oremos

Todo-Misericordioso Deus, confessamos que pecamos contra Ti, em pensamentos, palavras e atos, com aquilo que fizemos e com aquilo que deixamos de fazer. Não te amamos de todo o nosso coração, e não amamos nosso próximo como a nós mesmos. Estamos verdadeiramente compungidos e humildemente nos arrependemos. Por amor a teu Filho, Jesus Cristo, tem misericórdia de nós e perdoa-nos, para que nos deleitemos em tua vontade, e caminhemos em teus caminhos, para a glória do seu nome. Amém.

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