Disciplina: Adoração

Adorar a Deus nos lembra quem somos e em qual história estamos inseridos.

O décimo episódio da Série Disciplinas Espirituais tem o objetivo de nos arrancar da familiaridade e nos invadir com a grandeza, a beleza e a bondade de nosso Deus. Praticar a disciplina espiritual da Adoração é abrir um espaço à nossa volta, na rotina da vida comum, tirar os sapatos e reconhecer que estamos pisando em um lugar sagrado: estamos diante do único Senhor, digno de nossa adoração.

Ele invade nossa realidade, vem até nós e se revela de formas maravilhosas. Somos confrontados a abandonar o tédio da rotina comum e vermos o mundo transparente para a manifestação da glória de Deus. Somos parte do teatro da glória de Deus e transformados por Ele à medida que o adoramos, reconhecendo a honra que é devida somente a Ele.

Afinal, o que (quem) você adora molda quem você está se tornando. Assim, te convido para incluir a disciplina da Adoração a Deus em sua agenda e ser arrebatado por ela. Especialmente se ela soar estranha aos seus ouvidos e você nem souber por onde começar. Ou, então, se você estiver acostumado a praticá-la somente no culto público e, devido ao isolamento, não realizá-la há um bom tempo.

A Disciplina Espiritual da Adoração

Tu és digno, ó Senhor e nosso Deus, de receber glória, honra e poder. Pois criaste todas as coisas, e elas existem porque as criaste segundo a tua vontade”. — Apocalipse 4:11

Ao estudarmos e meditarmos sobre Deus, em sua Palavra e outros livros, seremos levados às disciplinas da adoração e da celebração. Para Dallas Willard, na adoração, reconhecemos e expressamos, por meio de pensamentos, palavras, músicas, rituais e símbolos, a grandeza, a beleza e a bondade de Deus. Fazemos isso individualmente e também com o povo de Deus. Adorar é reconhecer Deus como digno, atribuindo a Ele grande honra. (2)

“Digno é o Cordeiro que foi sacrificado de receber poder e riqueza, sabedoria e força, honra, glória e louvor!” “Louvor e honra, glória e poder pertencem àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro para todo o sempre!” — Apocalipse 5:12,13

Enquanto que na disciplina da celebração nos alegramos com a misericórdia e bondade do Senhor, na adoração olhamos cuidadosamente para os detalhes das ações de Deus, deixando sua glória invadir nossa mente e coração, nos prostrando em maravilhamento diante do único que é digno de todo nosso louvor. Na adoração, o próprio Deus vem ao nosso encontro e nossos pensamentos e palavras se voltam para a percepção dele. Deus se revela a nós em grandeza, beleza e bondade e tal percepção causa uma influência real em nossa vida. (2)

A adoração cristã, para James Smith, é carregada com uma visão de florescimento, um telos (propósito) que nos ensina a orar as palavras de Mateus 6:10: “venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu.” A adoração está vinculada à finalidade do ser humano: refletir o Deus em cuja imagem fomos formados. Adoração está, assim, vinculada à criação: somos re(feitos) à imagem de Deus e enviados como portadores de sua imagem para o mundo e em favor do mundo. Nos lembramos de quem somos e em qual história estamos inseridos; somos fortalecidos para viver cada dia em relacionamento com este Deus que adoramos, a quem reconhecemos como nosso Senhor. (4)

Para Dallas Willard, a adoração cristã é mais proveitosa quando centralizada em Jesus Cristo e por seu intermédio chega a Deus. Quando adoramos, enchemos nossa mente e coração com a admiração e o maravilhamento do Senhor Jesus — suas ações e palavras, seu julgamento e morte na cruz, a realidade de sua ressurreição, ascensão e obra como intercessor no céu. (2)

Segundo William Temple, “adorar é vivificar a consciência com a santidade de Deus, suprir a mente com a verdade de Deus, purificar a imaginação com a beleza de Deus, abrir o coração ao amor de Deus, consagrar a vontade ao propósito de Deus.” (3)

Assim, consciência, mente, imaginação, coração e vontade se prostram diante do Senhor à medida que são inundadas por sua presença e amor. Precisamos disso, especialmente hoje quando temos tantas outras coisas invadindo nossas vidas e nos moldando. Tanta feiura e mentira, tanta falsidade e engano, tanta maquiagem e simulação, tanta maldade e distorção…

Se nos deixarmos levar pela correnteza da vida, seremos absorvidos por nós mesmos, nossas necessidades e apetites, nossos medos e ansiedades, nossos prazeres e estratégias de sobrevivência. Seremos cada vez mais moldados em adoradores de si mesmos, idólatras mudos e cegos, assim como nossos ídolos. Precisamos ser tirados de nós mesmos e termos nossos olhos capturados por uma beleza maior, uma bondade mais consistente, uma glória mais duradoura que irá nos preencher e moldar nossa estrutura, mente e coração, vontade e imaginação, à imagem de nosso Senhor.

Adorar, então, é experimentar a realidade maior que sustenta a vida de cada um de nós. É conhecer, sentir e experimentar Aquele que é, que era e que há de vir, o Cristo ressurreto que reina soberano sobre todas as coisas. Precisamos ser arrancados de nós mesmos e levados a experimentar um vislumbre da realidade da glória de Deus.

Assim, em meio a nossa rotina comum, somos convidados a parar e a exercitar a disciplina da adoração, na qual respondemos ao amor generoso do Senhor, derramado por nós. Escolhemos a adoração ao invés da murmuração e da insatisfação com o momento presente, assim como da especulação e da tentativa de controle do futuro. Atitudes que, repetidas ao longo do tempo, nos deixarão completamente indiferentes à presença de Deus.

Por isso, a adoração como um exercício praticado especialmente em meio às provações e dificuldades, nos ajuda a confrontar o medo que sentimos ao perdermos o controle. Como resultado, podemos experimentar a alegria e ter a esperança renovada, pois somos atraídos para o Deus que nos sustenta e temos nossa perspectiva restaurada pelo amor derramado sobre nós. A bússola do nosso coração é ajustada para a direção correta e temos, então, condições de continuar em nossa jornada.

Deus é o objeto da nossa adoração, o alvo, aquele para quem olhamos e a quem adoramos. “Adore o Senhor, seu Deus, e sirva somente a ele”, diz Jesus em Mateus 4:10. A adoração pode surgir mais espontaneamente ao termos motivos de gratidão, ao contemplarmos algo bonito na criação ou nos alegrarmos com coisas boas. Mas se torna um exercício importante especialmente em momentos de provação, quando lembramos que apesar do mal e do sofrimento, o Senhor sustenta a realidade e é digno de nossa adoração. Portanto, adoramos independente das circunstâncias ou situações que estejamos vivendo.

Enxergar quem o Senhor é nos conduz à confissão, nos sentimos indignos diante de sua presença, pois entender sua graça é entender nossa culpa e aceitar o seu perdão. Agora, lavados no sangue de Jesus, somos cheios de louvor, ação de graças e adoração. O serviço então, pode brotar da adoração e nos levar às boas obras como resultado do amor que nos amou primeiro e do mandamento de amarmos uns aos outros. (3)

Enquanto cuidamos das tarefas do dia a dia, nosso interior pode transbordar em adoração. O que fazemos pode ser parte da resposta ao amor de Deus que nos alcança em nossa rotina comum. Também podemos ter momentos dedicados especialmente para a adoração, o louvor e a meditação em Deus. E, por fim, podemos nos reunir com mais irmãos para o adorarmos em comunidade, com uma expectativa especial de louvá-lo e engrandecer-lhe o Nome.

Segundo Richard Foster, quando estamos reunidos para adoração, ocorrem coisas que jamais aconteceriam se estivéssemos sozinhos. Somos misteriosamente unidos em um só corpo e envolvidos em um senso de unidade pela presença do Espírito Santo. A comunhão que experimentamos na adoração também nos une, nos fortalece e alimenta. Isaac Pennington disse que pessoas reunidas para adoração “são como um amontoado de brasas vivas e incandescentes, esquentando uns aos outros, e uma corrente de grande força, vivacidade e vigor flui para dentro de todos.” (3)

Um dos motivos porque a adoração é considerada uma disciplina espiritual é por ser uma forma estabelecida de agir e de viver que nos põe diante de Deus, reconhecendo-o como o único Senhor digno de adoração. Ela confronta nosso pecado e nos coloca no lugar que nos é devido: de criaturas diante do Criador. Ele é o Senhor, não eu. A glória e o poder pertencem a Ele, não a mim.

É uma disciplina de entrega do controle e submissão a Deus que envolve todo o nosso corpo: nos prostramos, levantamos as mãos, cantamos e sentimos todo nosso ser vibrar em direção ao Senhor. A mente é conquistada, assim como a imaginação, a vontade é rendida, os afetos são alcançados. Nos emocionamos ao termos os pensamentos e sentimentos conquistados pela presença do Senhor.

Willard Sperry diz que “a adoração é uma aventura deliberada e disciplinada dentro da realidade.” Ela não é recomendada aos tímidos nem aos acomodados. Requer que estejamos abertos para a vida intrépida do Espírito. Exige nossa atenção e disponibilidade para que a mensagem a respeito de Cristo, em toda a sua riqueza, preencha a nossa vida. (3)

Salmo 29:1–2 diz: “Honrem o Senhor por sua glória e força. Honrem o Senhor pela glória de seu nome, adorem o Senhor no esplendor de sua santidade.”

Oremos

Ó Deus, que trouxe a existência toda a criação, galáxias, montanhas e pores do sol, todas as tuas criaturas proclamam teu poder majestoso e a tua sabedoria infinita. Todos nós te adoramos, Senhor, e glorificamos o teu nome. Pois tu és grande e realizas feitos maravilhosos. Só tu és Deus! Paramos tudo o que estamos fazendo, nos concentramos na realidade que sustenta o universo e as nossas vidas, a tua presença, e te adoramos. Ensina-nos a te buscar e a te encontrar na adoração em meio à rotina de nossos dias. Amém.

Por: Vanessa Belmonte

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